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1 de set. de 2015

Ele, Clarice e Fim





Clarice era o nome que lhe comia a alma. Devorava-lhe a calma e o entorpecia de vez em quando. Clarice! Ele jamais esqueceria.
Clarice tinha olhos claros, de um verde profundo e provocante e um jeito de olhar que destruía as certezas de quem a ousava encarar.
Ela era toda amor em seu sorriso largo por trás dos lábios, displicentemente, desenhados.
Clarice era toques por suas mãos languidas de unhas bem aparadas, com sua pele branca, mãos suaves e bem desenhadas.
Ela era, ainda, a lembrança que lhe atordoava o senso e tomava de si o ar dos pulmões.
Clarice…
E ele?
Ele existia. Era o lembrador dela. Era quem a mantinha intacta em sua breve existência de sentimentos.
Não, ele não tinha os olhos claros como os dela, ao contrário, possuía olhos escuros como a noite sem luar.
Seu sorriso embora farto por trás dos lábios carnudos, não se fazia grande como o acaso labial de Clarice.
Nem sua pele tinha a mesma alvura; a dele carregava manchas de sol e ansiedade.
Ele era só ele, e nada além
Ele sentia, somente. E em seu sentir vezes amava e vezes odiava Clarice; simplesmente por que ela estava lá. Existia dentro dele, a revelia de seu querer.
E ele era quem sabia Clarice.
Adivinhava as pequenas mentiras, sabia as necessidades, via a saudade… Ele sabia sobre ela.
Clarice dizia que eram destinos. Ele dizia que era nada.
Casaram-se uma vez, por acaso, entre lençóis e esperanças. Mas ele não ficou. Ele queria o mundo, ele queria o mar.
Ele queria ir aonde ela não podia estar.
E ela? Ela sofreu.
Jurou amor, jurou ódio, jurou vingança.  Chorou, implorou e escarneceu. Gritou, chutou e cuspiu-lhe na cara.
E houve um grande silêncio.
Ele jamais pode ama-la, e jamais pode esquecê-la.
E agora caminham assim. Ela todo amor e dor; ele seu lembrador. Eis o Fim.


Texto meu, originalmente publicado em http://rodadeescritores.com.br/2015/03/26/mariah-alcantara/ele-clarice-e-fim/

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