Lorem
Era sexta-feira, a primeira de suas férias, era natural que estivesse
preguiçosa. Ainda deitada tentou fazer uma agenda mental do seu dia. Queria aquele
dia de presente. O telefone no criado
mudo piscava o aviso de mensagem. Era só uma mensagem de bom dia. Mas a fez sorrir.
Levantou-se sem pressa.
Sentada a mesa, com a xícara de café quente, ela ainda
pensava em na mensagem, na verdade em quem a mandava. Relembrava seus traços, seu sorriso... Triste
historia aquela, triste como a sua. Triste como tantas outras acontecidas no
caminho. Mas a poesia não carrega certa tristeza que a fez bonita?
Algumas vezes ela se questionava sobre si mesmo, sobre valer
a pena, sobre escolhas...
Quando menina, apanhara uma vez, por ter beijado uma amiga
na escola, quando adolescente achou que estava doente e acabou por namorar um
menino, engravidou, abortou, sofreu triplamente, a dor de ser humilhada, excluída.
Foi violentada, pois lhe diziam que faltava homem. Ela
resistia. Ela era forte, tinha que ser. Lutava sozinha por muitos anos, e nem
sempre para ser aceita, mas muitas vezes para sobreviver.
Através dos anos foi uma batalha ser quem era; para vencer
nos campos que escolhera brigar. E ainda era. E sempre seria, mas valia a pena.
E valia a pena quando ela fechava os olhos e podia pensar no sorriso que lhe
derretia a alma gelada, quando pensava nos olhos que a faziam tremer dos pés a
cabeça quando a encaravam.
O mundo não estava perfeito e o caminho era longo. Mas ela não
estava mais sozinha.
Era sexta-feira ela poderia fazer o que quisesse, era manhã,
havia um dia inteiro pela frente, mas ela decidiu que naquela sexta-feira, era
hora de declarar-se. De novo, e de novo, e de novo. Esperou impaciente pelo fim
do dia, aprontou-se com cuidado, queria estar bonita.
Caminhou apressada para encontrar a parte que lhe faltava no
coração.
Abraçaram assim, na rua. As duas, cabelos ao vento,
olharam-se com carinho, beijaram-se, sorriram. A vida também existia ali.
Eu te amo – ela disse – faz amor comigo?!